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A Tez da Memória: Memória-Trama

Memória-Trama

por Filipe Rossi

Em 2014 ‘co-memoramos’ os 100 anos do começo da Primeira Grande Guerra, e aqui no Brasil, os 50 anos do Golpe Militar, que instaura anos sombrios à nossa nação. No ano passado sofremos com imagens fortes de um ataque com armamento químico na Síria, assim como imagens das manifestações que tomaram conta do mundo árabe e também de nosso país.

Esta reunião de eventos aparentemente distantes é que nos movimenta em nosso novo projeto: A Tez da Memória. Queremos assim questionar o passado em cada ser humano. A pele sensível que cobre imagens de passados sombrios. Qual é a pele dos fatos que ocorridos na história de cada um de nós protege uma memória humana, nossa responsabilidade sobre o passado da humanidade? O que eu, um cidadão comum tenho a ver com a primeira grande guerra? Qual a minha responsabilidade sobre o Golpe Militar? Qual é o meu corpo, dentre aqueles corpos cobertos de lenços brancos no ataque civil da Síria? Quantas rugas há em mim, causadas por estes eventos que parecem não estarem ao alcance de minha pele?

E dentro destas indagações ramificamos o projeto em três faces:

  • Memória-Poética
  • Memória-Crônica
  • Memória-Trama

Aqui apresentamos precisamente a Memória-Trama:

Temos como suporte dramatúrgico a obra Cinzas às Cinzas e Harold Pinter, o genial dramaturgo inglês, que na fase final de sua obra dedicou-se a temas relacionados a memória de um passado político conturbado. Esta obra trata suas personagens como perfuradores da epiderme em busca do corpo de uma memória que insiste em revisitá-los.

Em sintonia com a obra de Pinter, encontramos um livro intitulado Art from the Ashes, a respeito de obras diversas tendo como tema central a vida diante de holocaustos, que nos servirá também como fonte dramatúrgica e de pesquisa imagética.

Julgamos necessário um aprofundamento filosófico a respeito da memória. E encontramos consonância com esse intento a obra filosófica de Henri Bergson, tendo como principal fonte investigativa a obra Matéria e Memória. Como introdução ao pensamento bergsoniano, encontramos o livro Bergsonismo de Gilles Deleuze.

Temos então elencado um material introdutório para encontrar um princípio de criação teatral (quando digo teatral não quero exatamente dizer espetacular):

  • Fatos Históricos
  • Matéria e Memória – Henri Bergson
  • Bergsonismo – Gilles Deleuze
  • Art From The Ashes – Lawrence L. Langer
  • Cinzas às Cinzas – Harold Pinter

Buscamos agora encontrar as memórias coladas nas peles de comuns, encontrar os fatos que estão cravados como valas comuns nos corpos de humanos, pessoas que circulam entre nós, e como todas estas pessoas carregam este fardo chamado passado.

Assim, poderemos Co-Memorar, re-memorar coletivamente. Nossa memória comum exposta num jogo cênico de linguagens, nos dizendo quem somos e porque somos, podendo quem sabe encontrar um pós-Ser, mais leves do fardo de nossos antepassados, mais sábios, menos intolerantes…

A Tez da Memória surge-nos intuitivamente como um projeto teatral ambicioso, onde o espetáculo não é o fim último, mas um veículo para alcançarmos uma experiência humana outra. Penetraremos na memória em busca de uma identidade humana, tocando nossa total ancestralidade para projetarmos nosso Ser ao Mistério.