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Medeia: Tragédia ou Drama?

por Filipe Rossi

Quando leio Medeia de Eurípedes fico sempre com uma sensação estranha: Li, realmente, uma tragedia?
Considero-me um bom leitor de Nietzsche. Li quase todos. Li os primeiros escritos deste filósofo, e estes foram exatamente sobre a cultura helênica, sobre os principais filósofos da época trágica dos gregos. E é de enorme deleite quando fala sobre Sócrates, e aqueles que ouviram Sócrates falar. Eurípedes foi um desses…
Nietzsche o acusa de por fim ao teatro grego. A por fim na tragédia grega. Assim, sinto-me influenciado de alguma forma com este pensamento. Mas caso analisemos por este viés é inegável a ruptura que este tragediógrafo causou na cultura helênica e humana em geral.
Lancemos uma comparação mesquinha entre Medeia e Édipo Rei. O segundo, considerado por Aristóteles como a “Tragédia Perfeita” possui uma estrutura precisa, como bem analisou o filósofo, quanto Medeia possui sua estrutura, porém é titubeante. As coisas acontecem por acumulo e ficam por isso mesmo. Como se o escritor quisesse causar horror no público através da angústia continua, e não através da desgraça do herói. Mas afinal, quem é o herói em Medeia. Medeia? Mas ela encerra a obra vitoriosa e alando-se através de um deus-máquina?!
Em Eurípedes o que vale é a psique do herói, e não seus atos. E esta escolha dramatúrgica não tem nada a ver com os helenos. Talvez a influência de Sócrates e Platão à Eurípedes tenha surtido efeito. Então como nos narra o próprio Platão em “Apologia de Sócrates” que foi morto por sua sentença prever a “corrupção da juventude”, está corretíssima. O jovem Eurípedes fora corrompido.
Em Medeia de Eurípedes podemos encontrar o que viria a ser a culpa cristã. Sim, pois é justamente isto que Medeia quer suscitar em Jasão. Se pensarmos sobre o efeito da catarse a obra surge como exemplo para quem? Homem ou Mulher?! Caso pensemos nos Homens o efeito é o sentimento da culpa. Caso seja a Mulher serve de exemplo para o tempero da desmesura, do ódio, da vingança. Ou seja, a pacificação do espírito feminino tido como “destemperado”. Ambas as leituras não correspondem com a personalidade grega que chegou até nós através de outras obras trágicas, líricas, pensamentos e outros.
Caso este argumento tenha fundamento Eurípedes inaugura com Medeia o drama. Uma trama psicológica que nos leva a um único ato: Dar cabo de seus filhos!
Talvez estes filhos sejam a juventude grega, e que o deus-máquina nos atire nas nuvens e quando pisarmos terra firme haja a seguinte inscrição gravada na pedra: Welcome Roma!